O que é o transtorno bipolar e como a psicanálise pode ajudar
Essa doença faz parte dos transtornos de humor — aqueles que afetam o equilíbrio emocional do analisando —, e sua principal característica é a alternância de períodos de euforia (também chamados de “mania”) e de depressão. Eles se intercalam com episódios assintomáticos.
Neste post, vamos entender melhor as características do transtorno bipolar e como a psicanálise pode auxiliar quem o tem. Vamos lá?
O que acontece no transtorno bipolar?
O pesquisador Amit Anand, em um artigo publicado no periódico Biological Psychiatry, explica que, por trás da bipolaridade, encontra-se uma dificuldade em lidar com estímulos externos. O sujeito tem déficits de autocontrole que se manifestam de formas diferentes.
Anand, que é psiquiatra da Faculdade de Medicina de Indiana (EUA), esclarece que ambas as fases — depressiva e maníaca — são marcadas por impulsividade. Isso faz com que o indivíduo tenha reações exacerbadas ao que acontece no ambiente à sua volta.
Nesse mesmo estudo, ele também descobriu alterações no padrão de ativação cerebral dos sujeitos bipolares, mesmo nos momentos assintomáticos. Esse fato levou o cientista a concluir que as alterações não são mais um sintoma, mas formam parte da doença em si.
Como ele se manifesta?
Cada fase do transtorno bipolar apresenta traços bem marcantes e a intensidade dos sintomas varia de caso para caso. Sem tratamento, a tendência é que os episódios de crise se tornem cada vez mais frequentes.
Por exemplo, nos episódios maníacos, é comum o sujeito sentir uma grande alegria e animação, muitas vezes associada à ansiedade e nervosismo, dando a sensação de ser invencível. Assim, é comum que atitudes impulsivas apareçam, como deixar um emprego, terminar um relacionamento, fazer uma viagem etc.
Normalmente um ou dois dias depois dessa grande sensação de euforia, vem o episódio de depressão, fazendo com que o analisando transforme completamente suas atitudes, sentindo-se deprimido, triste, preocupado e vazio.
Assim, as ações impulsivas que antes foram tomadas começam a ser repensadas, fazendo com que o sujeito tenha mais dificuldades para lidar com essas alterações bruscas de humor.
A seguir, você pode ver as principais características de cada fase e se aprofundar mais no assunto.
Episódio maníaco
Nesse momento, o analisando pode:
- sentir-se muito alegre ou animado;
- sentir-se nervoso, ansioso ou alterado;
- falar muito e rapidamente sobre vários assuntos não relacionados;
- ficar inquieto, irritado ou suscetível;
- ter problemas para descansar ou dormir;
- acreditar ser capaz de fazer muitas coisas e ficar muito ativo;
- ter vaidade excessiva;
- apresentar uma autoestima exagerada;
- submeter-se a coisas arriscadas, como gastar muito dinheiro de uma vez só ou fazer sexo sem proteção, já que acredita ser invencível.
Episódio depressivo
Aqui, o analisando pode:
- sentir-se deprimido ou extremamente triste;
- sentir-se muito preocupado ou vazio;
- ter dificuldades de concentração;
- esquecer-se muito das coisas;
- perder o interesse em atividades prazerosas ou ficar apático;
- sentir-se cansado ou sem energia;
- tender ao isolamento e à solidão;
- ficar dias sem comer ou comer demais;
- ter dificuldades para dormir ou dormir demais;
- pensar em morte ou suicídio.
Quais são as principais causas?
Ainda não se sabe quais são exatamente as causas do transtorno bipolar, problema que atinge 4% da população brasileira. O que a ciência já deu conta de concluir é que condições genéticas e alterações nos níveis de diversos neurotransmissores têm um papel crucial.
Os pesquisadores também já descobriram que alguns fatores ambientais podem servir de gatilho para a manifestação das características genéticas do distúrbio bipolar. Alguns deles são episódios frequentes de depressão, estresse prolongado, uso de remédios para emagrecer e até mesmo disfunções na tireoide.
Existe diferença entre transtorno bipolar e depressão?
Por apresentar episódios de baixa energia psíquica, muitas pessoas confundem o transtorno bipolar com a depressão, acreditando que as fases eufóricas são normais, enquanto as depressivas caracterizam outro tipo de dificuldade. Embora existam muitas características da depressão no transtorno bipolar, eles não são a mesma coisa.
A depressão é caracterizada por ser um estado constante de tristeza, apatia e falta de prazer. Nesse sentido, mesmo que o sujeito apresente melhoras espontâneas, as suas alterações entre um humor e outro não são tão rápidas e impulsivas, como no transtorno bipolar.
Isso quer dizer, então, que o transtorno bipolar apresenta a rápida variação de humor em conjunto com a impulsividade nos episódios eufóricos.
Como é feito o diagnóstico?
Durante o atendimento psicanalítico, existem diversas formas de escutar a fala do analisando e compreender qual transtorno ele tem. Assim, por meio da escuta diferenciada, da identificação de padrões, da análise da sua história de vida e das significações que o analisando dá aos seus problemas, é possível identificar o transtorno bipolar.
No entanto, por ser um trabalho minucioso e delicado — afinal, o intuito não é criar rótulos e, sim, ajudar o sujeito a encontrar formas para lidar com suas dificuldades da melhor maneira possível —, existem diversos desafios que surgem no trabalho do psicanalista.
Um dos principais exemplos é a confusão do transtorno bipolar com outras desorganizações do pensamento, como depressão, borderline e hiperatividade. Para que isso não aconteça, é importante realizar diversas sessões com o sujeito a fim de compreender sua história de vida e deixá-lo falar livremente sobre suas angústias e anseios para fazer uma intervenção voltada para sua real necessidade.
Como a psicanálise pode ajudar?
O psicanalista tem um duplo papel no acompanhamento do transtorno bipolar. O primeiro deles, de ordem mais imediatista, é identificar em qual fase o sujeito se encontra e orientá-lo sobre a melhor forma de superar a crise.
Vale lembrar que esse processo de identificação muitas vezes não é tarefa fácil, já que o analisando pode compreender seus episódios maníacos como uma melhora súbita de uma depressão, por exemplo.
Assim, é fundamental compartilhar informações sobre os diferentes tipos de transtorno, evitando dar um diagnóstico completo logo no início dos atendimentos. Isso faz com que ele amplie a forma de compreender suas dificuldades, passando a enxergar outras coisas que antes ficavam escondidas no seu inconsciente.
O segundo papel é o de auxiliar no controle dos gatilhos reprimidos que levam aos episódios de mania e depressão, como filmes, relações e eventos. Autores como o polêmico Wilhelm Reich, Pierre Marty e os demais fundadores da escola psicossomática de Paris, e até o próprio Freud, tratam dos efeitos que o recalque têm sobre o corpo — a somatização.
Buscando recursos na infância, em sentimentos recalcados, em desejos e outros lugares da psique do indivíduo, o psicanalista consegue fornecer ferramentas para o analisando lutar contra a depressão, o estresse e outros gatilhos de fundo psicoemocional.
Compreender o transtorno bipolar e como a psicanálise pode ajudar o analisando é fundamental para desenvolver uma estratégia de trabalho eficiente e voltada para o real problema do sujeito em sofrimento. Lembre-se de fazer um acompanhamento acolhedor e seguro, auxiliando o analisando a compreender o que se passa na sua mente e como aquilo se transforma nas suas atitudes.
E então, gostou da abordagem que a psicanálise oferece para os sujeitos com transtorno bipolar? Aproveite para curtir a nossa página no Facebook e ficar por dentro de muitas outras discussões interessantes como essa!